sábado, 29 de dezembro de 2007

FELIZ 2008

MEUS AMIGOS, AMIGAS e LEITORES AMIGOS. DESEJO A TODOS MUITA LUZ ESPIRITUAL, SAÚDE MENTAL E FÍSICA, AMORES MARAVILHOSOS, ALEGRIA CONTAGIANTE E PAZ NO ANO DE 2008.

O MESTRE JESUS NOS ENSINA " NÃO NEGUES O BEM A QUEM É DE DIREITO QUANDO O PODER DE FAZÊ-LO ESTIVER EM SUA MÃOS."

DIA 03/01, estarei as 16hs tomando a 5º dose da quimioterapia. Pensem em mim em suas orações. Um grande beijo no coração de todos e até breve.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Engraçadas Situações da pré / pós Careca

Meu tio cortando meus cabelos estilo "Joãozinho". Ele fingia ser um cabeleireiro francês renomado e a cada tesourada fazia tanta graça que eu não tive espaço para chorar.

Olhar-me no espelho e dar tchau para o visual assustador da queda de cabelos antes de encarar a máquina zero.

Os últimos toquinhos de cabelo caídos sobre meu corpo na hora do banho, fizeram-me parecer um imenso bombom granulado.

Minha mãe voltar a me chamar de "meu Bebê".

Ganhar apelidos dos amigos. ( ET, Sigoumey de Alien, Kojak ) adoro esses personagens.

Ver duas sobrinhas num dilema paradoxal. Enquanto uma chorava compulsivamente ao me ver careca, a outra ria descontroladamente.

Tomar banho com touca plástica na cabeça ou desviar a cabeça pensando não estar molhando os cabelos.

Ver as variadas emoções das pessoas em suas sugestões. Umas pedem para eu colocar o lenço quando ensaio sair careca e, outras, quando ensaio sair de lenço, pedem que eu assuma a careca.

Atender a campainha da casa, sem o lenço e ver as caras e bocas que pessoas estranhas fazem, quando me olham espantadas.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Diga Não ao Câncer

Na prevenção das doenças, estar sempre de olhos bem abertos é sinônimo de não ser pego de surpresa por situações irremediáveis.

Por isso, faço um alerta geral. O Câncer tem cura se diagnosticado precocemente. Eu não tive medo.

Quando jovem, aprendi admirar-me nua no espelho. Não, com o olhar tolo de narciso, mas como quem ao descobrir a existência de um tesouro decora o mapa para nunca mais esquecer os detalhes de sua localização. Nessa viagem, fui além da fascinação, do ócio e da vaidade para construir a sólida identidade corporal que me acompanha até os dias de hoje.

Meu corpo, minha morada terrestre. Totalmente íntima desse santuário sou grata à natureza por todas suas bênçãos. A qualquer alteração de meu rico tesouro, não perco tempo com suposições, não me automedico e nem sigo receitas alheias, vou logo a um especialista. Cada corpo é um corpo e cada caso é um caso. Entendo que sendo humanos, temos um corpo que adoece. Socorrê-lo é sinal de respeito, amor e consciência.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Depoimento

A descoberta do CA foi pra lá de paradoxal. Enquanto, eu feliz e saudável, caminhava e cantava pelas ruas de minha vida, a sorrateira criatura crescia silenciosamente em minha mama esquerda. Foi no exame preventivo do ano corrente que o descobri. Um tumor de 1,4cm foi extirpado totalmente e um esvaziamento axilar se fez necessário. Tudo isso, sem que fosse preciso perder a mama. Tenho como mastologista o excelente Dr. Marcos Vinicius Hudson Nascimento.

Encontro-me em tratamento . Hoje, careca e a espera da 5ª sessão de quimioterapia. Acredito em Deus, em mim e na ciência. Por isso, a luta é árdua e incessante. Busco todos os dias estar equilibrada na fé, no amor próprio e no tratamento que faço na Clínica Oncomed/BH. Tenho como oncologista o "papa" Dr. Amândio S. Fernandes Júnior e sua competente equipe. Já fui também atendida pelos excelentes Dr. Alexandre Fonseca e Dr. Alexandre Pieri Chiari.

Atualmente, sobrevivo ao Câncer e sinto-me uma vencedora.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A Graça do Cotidiano

Fazia muito calor. O sol escaldante incomodava a todos. O céu brilhante não registrava nenhuma chuva por vir no horizonte daquela tarde sem sombras. Somente o suor molhava minha pele. Pensava num refrescante banho morno, quase frio, quando uma motocicleta estacionou frente a minha casa. A campainha soou alto. Adiei o banho e fui atender o portão.
O motoqueiro estava de costas e não me viu chegar. Fiquei em silêncio observando o que ele fazia. Era jovem, usava boné e estava um tanto agitado. Enquanto abria a tampa do malote para pegar minha encomenda pude ouvi-lo resmungar:
--- Meu Deus, que calor insuportável! Que droga trabalhar nesse sol, que tempo maluco. E, ainda de boné , não gosto de boné, que saco!
--Olá, tudo bem aí?
O jovem entregador virou-se e olhou-me assustado. Ajeitou o corpo, libertou-se do boné e respondeu:
--Puxa, não é que está calor mesmo? Você até raspou sua cabeça...
Naquele momento, percebi que estava sem o lenço. Passei a mão pela careca e dei boas risadas. Acho que ele não entendeu nada. Entregou-me o embrulho, disse adeus e voltou ao trabalho.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Minha versão careca

Os últimos toquinhos de cabelo caíram todos. Agora, carrego na cabeça a marca registrada dos pacientes em tratamento quimioterápico. Uma careca lisa, fria e pálida. O visual assusta e comove. Trafego entre a realidade e a abstração. Enquanto meus olhos negam a ver além das aparências, minhas mãos frenéticas não se cansam de olhar o suporte minimalista instalado no topo de minha cabeça. Situação desesperadora! Sei que terei que atravessar esse vazio, mas antes não resisto, entro no caos de minha dor e choro silenciosamente as minhas perdas.
Quando me vejo no espelho, não me acho feia. Esquisita talvez, diferente com certeza. Por isso, posso compreender com naturalidade a incômoda sensação que causo nas pessoas quando me olham. O impacto é grande, pois a careca além de proclamar minha condição de doente, deixa-me com estampa de filme de ficção. No primeiro momento, rostos assustados explodem em lágrimas, outros em risos nervosos, muitos duvidam, não querem acreditar e alguns se calam. Passado o susto, vem a solidariedade e o consolo mútuo. Os amigos fazem brincadeiras, comparam-me a personagens como ET, Kojak, Sigoumey no filme Alien e tantos outros. Não me importo, sigo sorrindo.
O tempo acalma as dores do mundo. É verdade. A minha, pelo menos se abranda à medida que enfrento a fatídica realidade em que me encontro e, espero com paciência a natureza se refazer em mim. Todos os pacientes, cada um a seu tempo, encontram uma maneira própria de conviver e retocar seu visual. Uns aderem as perucas, outros aos bonés e chapéus. Eu ando careca pela casa e ao sair, gosto dos lenços. Eles são mais divertidos, leves, confortáveis, apresentáveis e protegem-me do sol.
Meus cabelos chegavam aos ombros e eram lindos. Mas assim como lembro, também tem sido habitual esquecê-los. Pode parecer estranho, mas descobri que com cabelos ou sem cabelos, meu retrato interior ainda sobressai com zelo e singulariza meu conjunto Corpo. Sigo meu caminho com lenços e identidade. Nem tão feia e esquisita, apenas diferente.
A você que me olha, não veja apenas a minha foto, aproxime-se, toque-me com sua mensagem, seu carinho.
Minha versão careca agradece.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A Máquina Zero

Não quero mais usar a touca, a sensação de conforto que ela fornece, não me sustenta mais. Sinto-me prisioneira, refém do medo e a camuflagem torna-me frágil. Preciso estar dona de minha cabeça, sobreviver aos arranhões e não ficar a mercê do acúmulo de emoções. Sofrimento maior, já basta o de ser portadora de neoplasia maligna.
A decisão está tomada. Se não dá para impedir o visual aterrorizante, posso ao menos acelerar sua estadia. Passo a touca adiante e mando vir a máquina zero.
Escolho ser atendida no ateliê, por três motivos básicos: privacidade, comodidade e por ser o local da casa que mais gosto. Não suportaria chegar ao salão de beleza causando espanto e dó nas pessoas e por menos, chatear-me com a curiosidade das perguntinhas indiscretas. É no ateliê, rodeada de arte que fico inteiramente à vontade e feliz.
É chegada a hora. Antes de assentar, olho-me no espelho rapidamente e num gesto meio louco, aceno um tchau quase que debochado para a imagem expressionista refletida à minha frente e saio do stress. O cabeleireiro não faz comentários, acha graça e eu vou junto nas risadas.
Fim de mais uma batalha. Movimentos rápidos e precisos concluem meu pedido. Nesse instante mágico, O Grito ( 1893 ), de Much deixa minha mente e a refrescante sensação de uma enorme bala de eucalipto, refrigera-me a cabeça e segue até a alma.
Meu novo visual é contemporâneo, moda nas cabeças de todo o Mundo. Sei que irei sem molduras até o término da químio, mas não me queixo. De certa forma, isso me conduz ao que realmente aparento ser aos olhos de Deus.
Assim que puder, farei Arte da minha cabeça, agora raspada.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Grito

Esperar pela calvície vem sendo um martírio em minha rotina atual. Passo os dias , mais perdida que achada, sem vontade de aparecer e de ser vista. Aí de mim, que estou mutante!
A queda de cabelo não dá tréguas. Basta deslizar as mãos pela cabeça para o corte "joãozinho" ir se desfazendo em mechas por cada m² da casa. Enquanto, mechas caem, falhas surgem e o couro cabeludo vai lembrando a Caatinga Brasileira.
Impressionante a velocidade com que a químio nos desfigura e logo o nosso sofrimento.
De visual assustador, choro e faço chorar e por mais que pessoas tentem me ajudar, palavras não me consolam. A situação é aflitiva e doída. Sinto-me mal, incomodada, profundamente doente em ver-me assim, fragmentada. Um verdadeiro elemento surrealista capaz de ressuscitar Salvador Dalí. Com certeza, ele adoraria usar esse meu meu ícone em suas criações. Quanto a mim, sigo gritando.
-Socorrooooo, alguém tem um antídoto, aí?
Os gritos ecoam e uma bendita touca verde aparece pelas mãos de minha mãe e veste minha cabeça.
-Minha filha, o que os olhos não vêm, o coração não sente.
Penso no chavão e olho-me no espelho. O que não conserta, esconde. Não posso prever por quanto tempo, usarei o acessório. No momento, estou apresentável e tenho certo conforto. O gesto providencial de minha mãe consegue me acalmar.
-Valeu mãe, Obrigada!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O Espelho


Acordo em metamorfose e a cabeça inteira dói. Custo acreditar, mas a prova irrefutável da mudança repousa tranquilamente sobre o travesseiro de fronha verde. São centenas e centenas de fios de cabelo que num desenho gestual anunciam minha futura aparência.
Fecho os olhos, atônita, nego pensar e até existir....porém é fato, os medicamentos quimioterápicos não falham. Lágrimas escorrem de minha tristeza e se misturam ao emaranhado de pêlos. Deixo-me afogar nessa mistura esquisita por um bom tempo.
O fundo do poço é frio, escuro e totalmente inseguro.... a dor é grande, mas não maior que Eu. Abro os olhos, respiro fundo, refaço o semblante e decido sair.
De volta à realidade, descubro-me viva. O dia está lindo e quente e, viver é o que realmente importa para mim! Sento-me na cadeira e o vento me beija. Deixo que cortem curtinho, os meus cabelos.
Em pouco tempo, serei uma mulher careca.