segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Grito

Esperar pela calvície vem sendo um martírio em minha rotina atual. Passo os dias , mais perdida que achada, sem vontade de aparecer e de ser vista. Aí de mim, que estou mutante!
A queda de cabelo não dá tréguas. Basta deslizar as mãos pela cabeça para o corte "joãozinho" ir se desfazendo em mechas por cada m² da casa. Enquanto, mechas caem, falhas surgem e o couro cabeludo vai lembrando a Caatinga Brasileira.
Impressionante a velocidade com que a químio nos desfigura e logo o nosso sofrimento.
De visual assustador, choro e faço chorar e por mais que pessoas tentem me ajudar, palavras não me consolam. A situação é aflitiva e doída. Sinto-me mal, incomodada, profundamente doente em ver-me assim, fragmentada. Um verdadeiro elemento surrealista capaz de ressuscitar Salvador Dalí. Com certeza, ele adoraria usar esse meu meu ícone em suas criações. Quanto a mim, sigo gritando.
-Socorrooooo, alguém tem um antídoto, aí?
Os gritos ecoam e uma bendita touca verde aparece pelas mãos de minha mãe e veste minha cabeça.
-Minha filha, o que os olhos não vêm, o coração não sente.
Penso no chavão e olho-me no espelho. O que não conserta, esconde. Não posso prever por quanto tempo, usarei o acessório. No momento, estou apresentável e tenho certo conforto. O gesto providencial de minha mãe consegue me acalmar.
-Valeu mãe, Obrigada!

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