sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A Graça do Cotidiano

Fazia muito calor. O sol escaldante incomodava a todos. O céu brilhante não registrava nenhuma chuva por vir no horizonte daquela tarde sem sombras. Somente o suor molhava minha pele. Pensava num refrescante banho morno, quase frio, quando uma motocicleta estacionou frente a minha casa. A campainha soou alto. Adiei o banho e fui atender o portão.
O motoqueiro estava de costas e não me viu chegar. Fiquei em silêncio observando o que ele fazia. Era jovem, usava boné e estava um tanto agitado. Enquanto abria a tampa do malote para pegar minha encomenda pude ouvi-lo resmungar:
--- Meu Deus, que calor insuportável! Que droga trabalhar nesse sol, que tempo maluco. E, ainda de boné , não gosto de boné, que saco!
--Olá, tudo bem aí?
O jovem entregador virou-se e olhou-me assustado. Ajeitou o corpo, libertou-se do boné e respondeu:
--Puxa, não é que está calor mesmo? Você até raspou sua cabeça...
Naquele momento, percebi que estava sem o lenço. Passei a mão pela careca e dei boas risadas. Acho que ele não entendeu nada. Entregou-me o embrulho, disse adeus e voltou ao trabalho.

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