Ontem, voltei a clínica Oncomed para consulta com Dr. Letícia, pois minhas pernas e tornozelos estão muito inchados. Depois da avaliação clínica me foi pedido alguns exames de sangue e um ecocardiograma para conclusão do diagnóstico. Dr. Amândio disse-me que não devo ficar ansiosa e nem preocupada, que tudo é proveniente da toxicidade da quimio e que logo passará. Venho colocando meus pés suspensos por alguns minutos durante boa parte do dia e da noite para melhorar a circulação. Tenho notado que esse procedimento alivia. Na segunda-feira, farei os exames.
Depois da clínica, passei pela casa de minha prima Lili. Seus netinhos gêmeos de cinco anos que me conheceram careca e muito estranharam na época minha aparência, mas em momento algum me rejeitaram, abraçaram-me carinhosamente. Após os cumprimentos fomos lanchar e observei que ambos me olhavam diferentemente. Pedro parecia incomodado com minha aparência. Deu para sentir em sua pergunta ,que nada mudara para ele.
- Tia, seu cabelo não vai crescer não, você vai ficar assim para sempre?
Fiquei surpresa com a racionalidade masculina se revelando tão cedo. Ia responder-lhe quando Alice interviu notando que meu cabelo crescia. Pedro suspendeu as sobrancelhas diante da descoberta da irmã e mostrou-se envolvido com o fato. O emocional de Alice falou mais alto e um diálogo me comoveu.
- Tia, seu cabelo tá crescendo... passando a mão por minha cabeça. Ele tava aonde antes de você ficar careca?
- Alice, meu cabelo tinha o comprimento do cabelo de sua avó, estava nos ombros e era muito bonito...
- Tia, você chorou quando ele soltou...doeu?
"Soltar, doer", verbos fortes, Meu Deus?! Que situação aflitiva. Imaginei a cena e foi terrível. A vasta cabeleira indo ao chão de uma só vez feito uma peruca, é algo medonho. Senti uma dor intensa ao pensar ser essa, a impressão que povoava a mente daquela menina doce e sensível. Profundamente incomodada, tratei logo de mudar a cena, suavizá-la com a verdade.
- Alice, minha querida, os cabelos não caíram de uma só vez não. Meus cabelos foram caindo aos poucos e eu também, os cortei curtinhos iguais ao do Pedro. Depois, passei máquina zero e com mais alguns dias, os toquinhos finais caíram todos. E sabe de uma coisa bem legal, não doeu nem um pouquinho. Apenas fiquei triste, muito triste...
- Tia, que bom que não doeu...você ainda está triste?
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