quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Quimioterapia - 2ª Parte

Conheci o medo na quinta sessão realizada no dia 03/01/08, quinta-feira. Nova medicação, 180 minutos de aplicação endovenosa. Senti pequenos incômodos que precisaram ser acompanhados pela supervisora da enfermaria, Sra. Lílian e assistidos pelo Dr. Alexandre Fonseca. Uma leve irritação na garganta foi o bastante para interromper a medicação por 30 minutos até que providências fossem tomadas. Passado o susto, completou-se a medicação sem problemas. Passei os quatro primeiros dias sentindo apenas fraqueza, o que muito surpreendeu a todos em casa. Onde estariam os efeitos colaterais das sessões anteriores? O riso largo entre minhas bochechas durou pouco.

Na madrugada silenciosa do quinto dia, acordei assustada. Terríveis dores circulavam pelo corpo, dos pés até o topo da careca, tudo em mim doía e muito. Milhões de sensações estranhas tomaram conta de minha mente, senti-me brutalmente agredida, envenenada, maltratada, bombardeada. Sem conseguir entender o que se passava comigo, cheguei a pensar que fosse enlouquecer, senão morrer. A cada minuto um novo sintoma somava-se aos já existentes. Um verdadeiro campo minado!

Cólicas horrorosas invadiam minha barriga, enquanto articulações pareciam serem serradas. Intensas dores anais trouxeram hemorróidas que nunca tive e gases que cheiravam explosão. Num primeiro momento, imaginei-me no ringue com "Mike Tyson", literalmente nocauteada, beijando a lona a contra gosto. Depois, senti-me a própria "Maria Madalena" apedrejada erguendo os olhos aos céus em súplicas. Fora esquecida!

O sofrimento intenso parecia não ter fim. Meu corpo doia tanto quanto tremia. Terríveis choques elétricos beliscavam minha pele e a todo instante finas agulhadas alcançavam meus ossos. A cabeça parecia um vulcão pronto a explodir. Dores incontroláveis no maxilar mantinham minhas mãos firmes a segurá-lo compulsivamente, para que ele não caísse do rosto. Senti-me o próprio "Frankenstein", repleta de parafusos frouxos. A sensação é indigna e horrorosa! Assistir a força do corpo mais a doçura de sua própria fragilidade prestes a se fragmentarem é como estar aprisionada ao filme de terror na única e possível condição de existência do seu personagem: ser uma aberração.

Sofri sozinha na calada da noite, minha mãe coitada, não daria conta de ver-me naquele estado, deixei-a dormir. O tempo parecia parar. Em minha ampulheta com certeza, os grãozinhos de areia eram contados um a um. Enquanto lágrimas me sufocavam, inúmeras vezes implorei socorro divino.

Em alguns momentos até consegui realizar exercícios respiratórios e entoar mantras para relaxar. Tentativas, paleativos que me consolaram, mas não me salvaram. No limiar de minhas forças, quis gritar, acordar o mundo, fugir do pesadelo mas só pude ouvir uma voz dizendo baixinho "confie em Deus". Não sei como explicar, sei apenas que não duvidei e tão pouco resisti ao apelo daquelas palavras. Simplesmente deitei e dormi.

Quando acordei pela manhã, o milagre. Estava viva e precisando de cuidados urgentes. Febre, dor de garganta, aftas, feridas na boca e meu corpo voltando a doer. Liguei para o Dr. Amândio. Corri para a clínica e fui prontamente atendida por ele e pelo Dr. Alexandre Chiari. Ambos muito competentes, simpáticos e carinhosos, fizeram-me sorrir. No exame de sangue, uma discreta infecção que desapareceu naturalmente ao longo dos dias, graças ao repouso e boa alimentação. Para as dores, poderosas drágeas durante 48hs. Para as hemorróidas, uso de anestésico local e banhos quentes por alguns dias.

Foram 12 dias de muita angústia, medo, sofrimento e também de muita fé e muita paciência. Tudo passou, sobrevivi, recupero-me agora.

Um comentário:

giovana maria disse...

minha irma sei bem o que e isso nunca solbe explicar o que sentia com o tratamento, mas voce descreveu tao bem que chorei ao me lembrar, mas saiba que Deus nao te esqueceu nem ao menos de mim ele nos ama muito. eu tenho visto esse amor. saiba que jesus te ama nunca desista. beijos.