Conheci o medo na quinta sessão realizada no dia 03/01/08, quinta-feira. Nova medicação, 180 minutos de aplicação endovenosa. Senti pequenos incômodos que precisaram ser acompanhados pela supervisora da enfermaria, Sra. Lílian e assistidos pelo Dr. Alexandre Fonseca. Uma leve irritação na garganta foi o bastante para interromper a medicação por 30 minutos até que providências fossem tomadas. Passado o susto, completou-se a medicação sem problemas. Passei os quatro primeiros dias sentindo apenas fraqueza, o que muito surpreendeu a todos em casa. Onde estariam os efeitos colaterais das sessões anteriores? O riso largo entre minhas bochechas durou pouco.
Na madrugada silenciosa do quinto dia, acordei assustada. Terríveis dores circulavam pelo corpo, dos pés até o topo da careca, tudo em mim doía e muito. Milhões de sensações estranhas tomaram conta de minha mente, senti-me brutalmente agredida, envenenada, maltratada, bombardeada. Sem conseguir entender o que se passava comigo, cheguei a pensar que fosse enlouquecer, senão morrer. A cada minuto um novo sintoma somava-se aos já existentes. Um verdadeiro campo minado!
Cólicas horrorosas invadiam minha barriga, enquanto articulações pareciam serem serradas. Intensas dores anais trouxeram hemorróidas que nunca tive e gases que cheiravam explosão. Num primeiro momento, imaginei-me no ringue com "Mike Tyson", literalmente nocauteada, beijando a lona a contra gosto. Depois, senti-me a própria "Maria Madalena" apedrejada erguendo os olhos aos céus em súplicas. Fora esquecida!
O sofrimento intenso parecia não ter fim. Meu corpo doia tanto quanto tremia. Terríveis choques elétricos beliscavam minha pele e a todo instante finas agulhadas alcançavam meus ossos. A cabeça parecia um vulcão pronto a explodir. Dores incontroláveis no maxilar mantinham minhas mãos firmes a segurá-lo compulsivamente, para que ele não caísse do rosto. Senti-me o próprio "Frankenstein", repleta de parafusos frouxos. A sensação é indigna e horrorosa! Assistir a força do corpo mais a doçura de sua própria fragilidade prestes a se fragmentarem é como estar aprisionada ao filme de terror na única e possível condição de existência do seu personagem: ser uma aberração.
Sofri sozinha na calada da noite, minha mãe coitada, não daria conta de ver-me naquele estado, deixei-a dormir. O tempo parecia parar. Em minha ampulheta com certeza, os grãozinhos de areia eram contados um a um. Enquanto lágrimas me sufocavam, inúmeras vezes implorei socorro divino.
Em alguns momentos até consegui realizar exercícios respiratórios e entoar mantras para relaxar. Tentativas, paleativos que me consolaram, mas não me salvaram. No limiar de minhas forças, quis gritar, acordar o mundo, fugir do pesadelo mas só pude ouvir uma voz dizendo baixinho "confie em Deus". Não sei como explicar, sei apenas que não duvidei e tão pouco resisti ao apelo daquelas palavras. Simplesmente deitei e dormi.
Quando acordei pela manhã, o milagre. Estava viva e precisando de cuidados urgentes. Febre, dor de garganta, aftas, feridas na boca e meu corpo voltando a doer. Liguei para o Dr. Amândio. Corri para a clínica e fui prontamente atendida por ele e pelo Dr. Alexandre Chiari. Ambos muito competentes, simpáticos e carinhosos, fizeram-me sorrir. No exame de sangue, uma discreta infecção que desapareceu naturalmente ao longo dos dias, graças ao repouso e boa alimentação. Para as dores, poderosas drágeas durante 48hs. Para as hemorróidas, uso de anestésico local e banhos quentes por alguns dias.
Foram 12 dias de muita angústia, medo, sofrimento e também de muita fé e muita paciência. Tudo passou, sobrevivi, recupero-me agora.