terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Confie em Deus

A presença do Anjo de Deus consolando-me frente aos efeitos colaterais da 5ª quimio foi uma experiência profundamente íntima, real e intransferível. O Anjo tocou meus ouvidos e não arredou as asas até que eu aprendesse a lição. "Confie em Deus", palavras poderosas e repetidas por todos que me rodeiam, alcançaram de maneira maravilhosa e definitiva meu coração e minha vida.

Hoje, dia 29, grande alívio! Os efeitos colaterais da 6ª sessão estão leves e toleráveis, nada comparado ao pesadelo anterior, graças a Deus.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Quimioterapia - 3ª Parte

Ontem, dia 24/01/2008, recebi a 6ª sessão de quimioterapia.

Minha mãe tem me acompanhado a todas sessões com total e irrestrito apoio. Sempre que chegamos à clínica, somos bem recebidas e rapidamente atendidas pelos funcionários uniformizados e informatizados. Todos sempre gentis e simpáticos. Encaminhada até a balança, tenho o peso anotado no prontuário e sigo para a consulta clínica com o Dr. Amândio no 5º andar do prédio.

A Clínica, de construção moderna, é bem decorada, extremamente limpa, organizada e confortável (salas de espera com tvs, lanchonete , bebedouros. Os consultórios, as enfermarias e os banheiros são amplos, claros, bem ventilados, bonitos e agradáveis). A clínica transmite Saúde, Vida e Luz. Nunca entrei ou sai deprimida dali. Em seus elevadores, duas carinhas risonhas completam a harmonia do lugar "Sorria, aqui você está sendo cuidado".

Dr. Amândio é um grande profissional. Sempre risonho abraça-nos carinhosamente e faz brincadeiras para relaxar nossa tensão e aliviar nossa dor frente ao tratamento. Faz perguntas, responde outras , completa o exame clínico e anota as informações e avaliações em meu prontuário. Sigo para a enfermaria no 2º andar.

A enfermaria sempre lotada de pacientes, deixa claro o quadro crescente da doença e declara que ninguém está longe de contraí-la. Ricos, pobres, crianças, homens e mulheres de todas as idades e etnia fiquem atentos, por favor. O CÃNCER TEM CURA SE DIAGNOSTICADO PRECOCEMENTE ! ! !

Vários são os tipos e estágios do tratamento quimioterápico. Alguns pacientes recebem medicação por horas e dias. Uns se apresentam fortes, outros mais abatidos, porém é grande a fé no tratamento e a maioria luta bravamente. Desde que comecei a quimio, prefiro receber a medicação deitada e tenho podido fazê-lo. Minha filosofia de conforto é "se posso sentar-me porque ficar em pé e se posso deitar-me porque ficar sentada.". Instalada na cama do Box 8, recebi a medicação por 3hs e fui acompanhada de perto pelo grupo competente e atencioso de enfermeir@s (Mário, Gilda, Ângela,Dolores entre outr@s).

Desta vez, não apresentei nenhuma reação alérgica e nenhuma tensão que sobressaltasse meu estado de paz. Incrível, como é possível sentir-se bem em qualquer circunstância da vida! Sempre acreditei que o sujeito é mais importante que o objeto, daí meu olhar 360º. Carecas e não carecas, juntos aos familiares vão contando caso, chorando, sobrevivendo e até mesmo caçoando da doença. A dor é como raiz que cresce sob solo fértil, mas que sobre superfície luminosa, seca rapidinho.

Eu fiz minha escolha!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Minha Fé

Creio em Deus tanto quanto em mim mesma.

Creio na quimioterapia assim como em Deus.

A mão de Deus guia a mão do homem para criar e curar.

A voz de Deus dita minha vida e se faz real em minhas atitudes.

O amor de Deus é energia que corre em minhas veias e alimenta-me.

Olho para mim e vejo Deus.

Somos um e ele se revela em mim através do Espirito Santo.

Sendo imagem e semelhança do Pai.

Sou filha e ele, meu maior amor.

Recolho-me sempre em seus braços, quando estou triste.

Rendo-me a sua proteção frente a qualquer perigo.

Durmo em paz confiante do final feliz.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Quimioterapia - 2ª Parte

Conheci o medo na quinta sessão realizada no dia 03/01/08, quinta-feira. Nova medicação, 180 minutos de aplicação endovenosa. Senti pequenos incômodos que precisaram ser acompanhados pela supervisora da enfermaria, Sra. Lílian e assistidos pelo Dr. Alexandre Fonseca. Uma leve irritação na garganta foi o bastante para interromper a medicação por 30 minutos até que providências fossem tomadas. Passado o susto, completou-se a medicação sem problemas. Passei os quatro primeiros dias sentindo apenas fraqueza, o que muito surpreendeu a todos em casa. Onde estariam os efeitos colaterais das sessões anteriores? O riso largo entre minhas bochechas durou pouco.

Na madrugada silenciosa do quinto dia, acordei assustada. Terríveis dores circulavam pelo corpo, dos pés até o topo da careca, tudo em mim doía e muito. Milhões de sensações estranhas tomaram conta de minha mente, senti-me brutalmente agredida, envenenada, maltratada, bombardeada. Sem conseguir entender o que se passava comigo, cheguei a pensar que fosse enlouquecer, senão morrer. A cada minuto um novo sintoma somava-se aos já existentes. Um verdadeiro campo minado!

Cólicas horrorosas invadiam minha barriga, enquanto articulações pareciam serem serradas. Intensas dores anais trouxeram hemorróidas que nunca tive e gases que cheiravam explosão. Num primeiro momento, imaginei-me no ringue com "Mike Tyson", literalmente nocauteada, beijando a lona a contra gosto. Depois, senti-me a própria "Maria Madalena" apedrejada erguendo os olhos aos céus em súplicas. Fora esquecida!

O sofrimento intenso parecia não ter fim. Meu corpo doia tanto quanto tremia. Terríveis choques elétricos beliscavam minha pele e a todo instante finas agulhadas alcançavam meus ossos. A cabeça parecia um vulcão pronto a explodir. Dores incontroláveis no maxilar mantinham minhas mãos firmes a segurá-lo compulsivamente, para que ele não caísse do rosto. Senti-me o próprio "Frankenstein", repleta de parafusos frouxos. A sensação é indigna e horrorosa! Assistir a força do corpo mais a doçura de sua própria fragilidade prestes a se fragmentarem é como estar aprisionada ao filme de terror na única e possível condição de existência do seu personagem: ser uma aberração.

Sofri sozinha na calada da noite, minha mãe coitada, não daria conta de ver-me naquele estado, deixei-a dormir. O tempo parecia parar. Em minha ampulheta com certeza, os grãozinhos de areia eram contados um a um. Enquanto lágrimas me sufocavam, inúmeras vezes implorei socorro divino.

Em alguns momentos até consegui realizar exercícios respiratórios e entoar mantras para relaxar. Tentativas, paleativos que me consolaram, mas não me salvaram. No limiar de minhas forças, quis gritar, acordar o mundo, fugir do pesadelo mas só pude ouvir uma voz dizendo baixinho "confie em Deus". Não sei como explicar, sei apenas que não duvidei e tão pouco resisti ao apelo daquelas palavras. Simplesmente deitei e dormi.

Quando acordei pela manhã, o milagre. Estava viva e precisando de cuidados urgentes. Febre, dor de garganta, aftas, feridas na boca e meu corpo voltando a doer. Liguei para o Dr. Amândio. Corri para a clínica e fui prontamente atendida por ele e pelo Dr. Alexandre Chiari. Ambos muito competentes, simpáticos e carinhosos, fizeram-me sorrir. No exame de sangue, uma discreta infecção que desapareceu naturalmente ao longo dos dias, graças ao repouso e boa alimentação. Para as dores, poderosas drágeas durante 48hs. Para as hemorróidas, uso de anestésico local e banhos quentes por alguns dias.

Foram 12 dias de muita angústia, medo, sofrimento e também de muita fé e muita paciência. Tudo passou, sobrevivi, recupero-me agora.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Quimioterapia - 1ª Parte

Hoje é dia de Maria, ou melhor da "Quimioterapia", muito sofrimento e nenhuma alegria!

Sai da minha 5ª sessão de quimioterapia. Serão oito ao longo do meu tratamento. Nas quatro primeiras sessões, a medicação levou em média 110 minutos para ser ministrada via endovenosa. Entre todas as sessões, faz-se necessário manter um intervalo de 21 dias e realizar um novo exame de sangue antes da próxima quimio. No hemograma verificam-se as taxas de plaquetas, leucócitos e creatinina. Apresentei leucopenia ( redução de leucócitos segmentares ) antes da 2ª e 4ª sessões e tive que aguardar por mais quatro dias o aumento progressivo e satisfátorio dos leucócitos para voltar a receber a medicação. Os medicamentos quimioterápicos ao destruírem as células do CA, por tabela, acabam também atingindo as células normais e sadias do meu corpo. Por isso, após cada sessão sofro com os efeitos colaterais. Alguns remédios são ministrados antes, durante e após a quimioterapia para aliviar os sintomas. Durante as quatro primeiras sessões, fiquei em média 05 dias passando mal e a recuperação sempre ganhava forças na metade da segunda semana.

Os principais efeitos colaterais com os quais tive que conviver e vencer foram: enjôos, náuseas, azia, fadiga, anemia, fraqueza muscular, queda de cabelo, dores de cabeça, suspensão do ciclo menstrual, olhos secos, irritação na garganta, aftas, língua branca, áspera e amarga, densa salivação, gengiva esbranquiçada e dolorida, constipação intestinal, odor de remédio exalando pela pele, suspensão do ciclo menstrual e o ganho de irritáveis ondas de calor. Não fiz vômitos e não perdi o apetite. Impressionante, venho brincando que meu maior pecado capital - a gula - tem me salvado, rrsss. Sempre fui bom garfo e sinto o maior prazer em comprar, preparar, degustar e maravilhar-me com as cores, sabores e formas dos alimentos. Não deixo a peteca cair, faço a festa, fortaleço-me em Deus e em todas suas bençãos sobre mim.